Friday, December 15, 2006

Flutuações

Eu amo-te, - não sabes? -
Mas ouve, toma conta:
Por isso não te gabes,
Não te me faças tonta;

Porquê, se é imenso
O perfume e o incenso
Que envia o meu amor,
Quási nada parece,
A par do que merece
Tributar-se
E queimar-se
Ante a tua alma, flor!

Ignoro se em teu seio
Reflecte a luz das chamas,
Que iluminar-me veio;
Sim... não sei se me amas;

Nem isso me apoquenta,
Porque o amor apresenta,
Depois de ver a luz,
E como a Vida, a idade
De alegre puberdade,
Venturosa
E animosa,
Que em valor se traduz.

Por ora, isto me basta:
Como te veja pura,
Como te veja casta,
Todo eu sou ventura...


De amor vírida palma,
Nutre-a de si minh'alma;
Como a ave singular,
Que dos filhos a fome
Lá nas entranhas some,
Arrancando,
E lhas dando
Até os saciar.

Ora e o teu corpo, - olha,
O teu corpo de fada,
Tem o frescor da folha
De pouco ainda formada.

Depois, se acaso falas,
Parece que exalas
E deixas ver os dons
Da tua alma de pomba,
Dessa alma que não zomba,
Tão suave...
Como a chave
Na flauta expede os sons.

Meu amor não ignoras;
Nada, não é possível;
O tacto das senhoras
Lá nisto, é infalível...

Se por sob a parreira
Passas, breve e altaneira,
Sem nada me dizer,
Em vez de chorar, canto,
Pois não ignoro quanto
Significa,
Quanto indica
Silêncio na mulher.

Assim, se tu quiseres
Amar, como eu espero,
Se a tua alma me deres,
Dar-te a minha eu quero.

Podem alar-se ao Espaço,
Cingidas num abraço
De sublime afeição!
E Deus, vendo-as perdidas
No azul do céu, e unidas,
Fará delas,
Quais estrelas,
Uma constelação!



AB

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