Tuesday, December 26, 2006


Envolvi-me em ti
Nessas vidas quentes
Entre os linhos salvos e sãos
Já que estou aqui
Traz-me também as sombras
Destes maus algureos vãos
E suporta-me os desejos
Nem que os deixes de sentir
Encontrarei o motivo
P'ra te ter aqui
P'ra te ter aqui
P'ra te ter aqui
Sucumbi por Deus
Esse leito baptizado
E fazia-o outra vez
Só p'ra ter-te a meu lado
E sentir-te perto
Fazer o que jamais alguém me fez
E permite que te acolha
Nesses braços frios sem ti
Trocava os sonhos por nada
P'ra te ter aqui
P'ra te ter aqui
P'ra te ter aqui...
E permite que te acolha
Nestes braços frios sem ti
Trocava os sonhos por nada
P'ra te ter aqui
P'ra te ter aqui
P'ra te ter aqui
P'ra te ter aqui...



Sara Tavares e Vozes do Rádio

Friday, December 15, 2006

Flutuações

Eu amo-te, - não sabes? -
Mas ouve, toma conta:
Por isso não te gabes,
Não te me faças tonta;

Porquê, se é imenso
O perfume e o incenso
Que envia o meu amor,
Quási nada parece,
A par do que merece
Tributar-se
E queimar-se
Ante a tua alma, flor!

Ignoro se em teu seio
Reflecte a luz das chamas,
Que iluminar-me veio;
Sim... não sei se me amas;

Nem isso me apoquenta,
Porque o amor apresenta,
Depois de ver a luz,
E como a Vida, a idade
De alegre puberdade,
Venturosa
E animosa,
Que em valor se traduz.

Por ora, isto me basta:
Como te veja pura,
Como te veja casta,
Todo eu sou ventura...


De amor vírida palma,
Nutre-a de si minh'alma;
Como a ave singular,
Que dos filhos a fome
Lá nas entranhas some,
Arrancando,
E lhas dando
Até os saciar.

Ora e o teu corpo, - olha,
O teu corpo de fada,
Tem o frescor da folha
De pouco ainda formada.

Depois, se acaso falas,
Parece que exalas
E deixas ver os dons
Da tua alma de pomba,
Dessa alma que não zomba,
Tão suave...
Como a chave
Na flauta expede os sons.

Meu amor não ignoras;
Nada, não é possível;
O tacto das senhoras
Lá nisto, é infalível...

Se por sob a parreira
Passas, breve e altaneira,
Sem nada me dizer,
Em vez de chorar, canto,
Pois não ignoro quanto
Significa,
Quanto indica
Silêncio na mulher.

Assim, se tu quiseres
Amar, como eu espero,
Se a tua alma me deres,
Dar-te a minha eu quero.

Podem alar-se ao Espaço,
Cingidas num abraço
De sublime afeição!
E Deus, vendo-as perdidas
No azul do céu, e unidas,
Fará delas,
Quais estrelas,
Uma constelação!



AB

Monday, December 4, 2006

Antero de Quental

«Deixai-os vir a mim, os que lidaram;
Deixai-os vir a mim, os que padecem;
E os que cheios de mágoa e tédio encaram
As próprias obras vãs, de que escarnecem...

Em mim, os Sofrimentos que não saram,
Paixão, Dúvida e Mal, se desvanecem.
As torrentes da Dor, que nunca param,
Como num mar, em mim desaparecem.» -

Assim a Morte diz. Verbo velado,
Silencioso intérprete sagrado
Das coisas invisíveis, muda e fria,
É, na sua mudez, mais retumbante
Que o clamoroso mar; mais rutilante,
Na sua noite, do que a luz do dia.

Monday, November 27, 2006

Lembra-te

Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos
Mário Cesariny

Vermelho sobre azul


Saturday, November 25, 2006

Roald Dahl


"Eu tenho uma paixão por ensinar as crianças a serem leitores, a sentirem-se confortáveis com um livro, e não serem repelidas por ele. Os livros não deviam ser repelentes, deviam ser engraçados, excitantes e maravilhosos. E aprender a ser um leitor traz-nos uma tremenda vantagem. "

"A maior qualidade de um ser humano é a bondade. Todas as outras, como a coragem e a preseverança são secundárias comparadas com essa. "

Quem não conhece a história de "Charlie e a fábrica de chocolate"?

Thursday, November 23, 2006

Conta a lenda que dormia

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino -
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.
E, inda tonto do que houvera,
à cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
Fernando Pessoa

Coral Biomédicas



Não percam o grande concerto, dia 10 Dezembro!!!

www.casadamusica.com

Calvin & Hobbes


O Clavin é simplesmente genial, não acham? Ou será o Hobbes?

Wednesday, November 22, 2006

O astrónomo e a brisa da noite

"Eu sei que TU estás aí!" - Gitou de novo o astrónomo, sozinho, no meio da noite. O frio entrava-lhe pelas mangas, o pescoço doí-lha de tanto olhar para o céu.
- Sei que estás aí, Deus Antigo, Deus Imenso - sussurrou o astrónomo. Sei que Te moves devagarinho enquanto as estrelas avançam, lenatemente, pela noite. Sei que estendes os teus braços por milhões de anos-luz até ás galáxias distantes. Sei que és muito grande e que brincas com Saturno quando o escondes no horizonte. Sei que no teu jardim plantas constelações feitas de estrelas. Sei da lágrima que choras em cada estrela cadente. Sei que Tu és Antigo, mais Antigo que a própria Terra. (...) Eu sei, mas dá-me um sinal da Tua presença.
Esperou. Mas mais uma vez ninguém respondeu.
Durante cem noites o astrónomo subira a esta colina. Durante cem noites esperara aniosamnete um sinal, um sinal por mais pequeno que fosse de que estava certo e de que os seus colegas estavam errados. (...) Pedia apenas um sinal para si, um sinal que lhe permitisse dormir em paz, apesar das gargalhadas dos outros. Mas passaram-se cem dias e cem noites e o sinal não veio.
Desistiu. Abandonou a brisa, a mesma brisa suave e fria que soprava desde a primeira noite e qe tantas vezes o irritava por não o deixar cncentrar-se.
- Olá - disse uma voz jovem e descontraída.
- Boa noite. - Disse o astrónomo surpreendido. - Não te vi. Como chegaste aqui sem que te sentisse? Perdeste alguma ovelha?
- Estava a ver que te perdia a ti. - Respondeu a voz, a sorrir. - Cem vezes pediste um sinal. Cem vezes te toquei com a minha brisa. creio que hoje te preparavas para não voltar.
- Senhor, Meu Deus! Sois Vós? O Altíssimo? O Deus Antigo? O Deus Imenso?
(Após uma longa conversa, o astrónomo pergunta...)
- Como é que Tu, sendo tão grande te sujeitas a isso?
- Maior grandeza é não se impor. Amar somente, escondido no brilho dos astros, na escuridão da noite, no soprar da vrisa. Chamar sem forçar. Falar ao coração daquele que olha o universo, como quem sussurra, e esperar que me deseje. Como tu, nestes cem dias, nestas cem noites em que me abrsite o teu coração e eu te desejei e tu me desejaste até quase não poder mais.
"Deixei-te até quase não poder mais", concordou o astrónomo, no cimo da colina. Quando abriu os olhos não viu ninguém. Sentiu apenas a brisa da noite que lhe tocava a cara. Mas agora já não tinha frio.
O Príncipe e a Lavadeira
Nuno Tovar de Lemos
Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
Ligeiro, ingrato, vão desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.

Amor é brando, é doce, e é piedoso.
Quem o contrário diz não seja crido;
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e ainda aos deuses, odioso.

Se males faz Amor em mim se veêm;
Em mim monstrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.

Mas todas suas iras são de Amor;
Todos os seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.

Luís de camões